8.12.10

devolva-me

Devolva o verso que escrevi faltando rima, devolva a foto, o perfume e o buquê, devolva o quadro na parede ali em cima, o crucifixo e a pintura em dégradé. Devolva o livro que esqueci no mês passado, o alicate, a lanterna luz neon, meu par de tênis, meu casaco desbotado ,devolva os discos de vinil do Chico e Tom.

Recolha a chapa que prepara misto quente, o saca rolha, o Cabernet, o cobertor. Me dê também o meu chaveiro ali pendente, e o bebedouro que eu comprei pro beija-flor. Quero estar certo que levei cada lembrança, é bem verdade que de um fim nasce um começo. Dê-me este copo que ganhei quando criança, e o guarda-chuva que desvira pelo avesso.


É meu também aquele vaso na janela, quero a tesoura, o abajur e o calendário, retire as frutas e devolva-me a tigela, faço questão do peixe azul dentro do aquário. Se bem me lembro, essa faca torta é minha, mande de volta o canivete europeu, faça a fineza de buscar lá na vizinha aquele porta-guardanapo que é meu.

Agora sim, dou meia volta e vou-me embora, coisas da vida... ora filme, ora intervalo.
O coração, só esse Dou pra senhora, quem sabe um dia eu volto aqui para buscá-lo?



***
Jomar Magalhães

Um comentário:

  1. "o coração, só esse dou pra senhora, quem sabe um dia eu volto aqui para buscá-lo?"

    era isso que eu gostaria de dizer a Ele - ai aiai, esse amores .. .

    um beijo, Flor!

    "tuas cartas" cada dia mais inspirador, parabéns querida Mariana!

    ResponderExcluir

- E o que você faz com as cartas que escreve?
- Guardo. A sete chaves. Um dia talvez possa
entregá-las pessoalmente.

Caio F.